4 de janeiro de 2010

o lúpulo do sonho


Fotografia de Erol Taskoparan
Nota: click na fotografia para ampliar

Uma criança de cinco anos de vestido vermelho plissado passa junto á montra com um balão pela mão como se fosse uma trela, então ele dobrou as hastes dos Wayfarer e encostou os braços no metal torneado e envelhecido do balcão acobreado. Lançou a teoria de que as cervejas são a única entidade que fica sempre bem nas fotografias. Não era a primeira vez que o fazia. Podia tirar naquele momento umas quantas polaroid e a única certeza é que a cerveja pareceria sempre mais loira e elegante do que tudo o que a rodeasse. Túlipa, caneca, imperial…you name it…a elegância em qualquer uma das suas formas, encimada por um tufo branco que lhe dava um charme grisalho logo á nascença. Como se fossem pequenas montanhas de charme a serem conquistadas uma após outra á medida que desapareciam dentro de nós. Isto intimidou-a, intimidou o seu tailleur impecavelmente vincado e os gémeos de ginásio frequente, intimidou até os Wayfarer. Cada um conquistou seis montanhas. Só quando ela dobrou para dentro todos os dedos dos seus pequeninos pés, formando uma concha de carne, é que o medo se transferiu dela para os lençóis e dos lençóis para o dia seguinte.

2 comentários:

  1. Um momento quase fotográfico, um sonho. Que é o que devemos transportar sempre connosco. O Palhaço agradece o mimo. E retribui, claro. Porque esse é o lúpulo da vida.

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