6 de março de 2010

dá-me noticias da tua dor

Nota: fotografia de Terayama Shuji. clique para ampliar

“Dá-me noticias da tua dor”, dizias tu na sms. Fiquei sem saber se querias saber do fino corte no flanco, quando o pulmão recorria ao amplexo do toráx, ou se simplesmente desejavas um postal da nossa lembrança. Não existem pasquins vespertinos que sinalizem o nosso trilho nem a meteorologia tempestuosa da espera. Entretanto esqueci-me do caminho-de-ferro no bolso do casaco e o horário da minha fé aponta á carruagem do horizonte. A mira é tão certeira que as notícias estão escritas em cada novelo do céu que te contempla longe. Minha querida, houvesse um cachimbo e fumava as horas da mesma forma que tu fazes amor, com as pausas necessárias para respirar e o fumo do prazer escamar as nossas portas de entrada. Devo dizer-te que dói acolá, da mesma forma que dói aqui. O mesmo nome solene está inscrito em cada avenida desta cidade. Há muito tempo a repetição era considerada um exercício frutuoso de vitória. E eu. Eu vou repetindo ângulos mortos e textos que começam na dor e acabam precisamente aqui.


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